Crônica: A Volta de Trump ao Palco da "Democracia"
E eis que o palco da política americana abre suas cortinas para um velh conhecido: o inusitado Donald Trump. Eleito novamente, Trump retorna não só à Casa Branca, mas ao espetáculo de paradoxos que é a "democracia à moda estadunidense". Como um show de variedades, onde o protagonista ora parece um empresário astuto, ora um apresentador polêmico, sua presença divide plateias e gera trending topics em um piscar de olhos. Que ironia: a democracia ocidental, modelo de tantas aspirações, agora carrega a face de quem adora esticar as regras desse jogo. E de quem há quatro anos, ou quase quatro anos, questionou essa própria regra.
Entre tweets, nem existe mais no Brasil, ácidos e discursos bombásticos, Trump é o anti-herói perfeito para uma trama caótica. E por mais que provoque calafrios no campo progressista, há algo de didático em sua volta: ele expõe, de forma crua, as entranhas do sistema que tanto o glorifica quanto o tolera. Trump representa aquela força que, em última análise, mostra que um líder não precisa ser um estrategista brilhante, mas alguém com timing para manipular, manipular com "M", o cenário — seja pelo humor ou terror nas palavras ou pelo medo que impõe aos opositores.
A lição, talvez, vá além das fronteiras estadunidense: o cenário político global é terreno fértil para figuras que apostam no espetáculo. Trump não venceu sozinho; ele é o reflexo de um público que, cansado de análises sofisticadas, quer respostas fáceis e frases de efeito, mesmo que idiotas. Em tempos de crise e polarização, as nuances desaparecem, e a preferência pelo “choque e pavor” ganha espaço. Ele é a personificação de uma era de menos paciência e mais impulsividade, onde o grito vence o argumento e o “meme” vira política.
E nós, do lado de cá, observamos esse retorno com um misto de horror e curiosidade. Afinal, quem poderia imaginar que um dos modelos de democracia preferiria um reality show ao invés de uma obra bem elaborada? Trump é o retrato de uma época em que a política vira entretenimento, mas, também é obscura e o entretenimento vira política. Talvez a lição mais valiosa seja que a democracia, por mais sólida que pareça, sempre corre o risco de eleger figuras que reforçam o seu lado mais vulnerável: o de ser influenciada pela emoção, e não pela razão.
Enfim, Trump voltou. E como qualquer bom espetáculo, a sua eleição tem o poder de nos fazer rir e temer, mesmo que com um sorriso meio amargo, e refletir sobre os rumos da democracia que tanto se defende. Se as lições serão aprendidas, ou se este é apenas o início de uma nova temporada desse enredo, sombrio, só o tempo dirá. Resta-nos, então, manter o olhar atento, para que as cortinas da democracia se abram mais ao sensacionalismo e menos ao diálogo.
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