G20 e a Urgência por Transformação

A recente reunião do G20 no Rio de Janeiro foi palco de discursos grandiosos, promessas ambiciosas e, como de praxe, contradições gritantes. O Brasil, anfitrião do encontro, destacou-se ao levar para o centro do debate um tema crucial: o combate à fome no mundo. Sob a liderança de um governo progressista, o de Luiz Inácio Lula da Silva, foi possível ver lampejos de esperança, mas, também a reafirmação de que o sistema capitalista é a principal engrenagem que perpetua a miséria global. As decisões tomadas, ou a falta delas, evidenciam a necessidade de mudanças estruturais profundas, que vão muito além de acordos protocolares.

Um dos pontos altos foi o compromisso assumido por diversos países em ampliar investimentos em segurança alimentar e promover políticas de redistribuição de riqueza. Até ontem estavam em 80 nações. No entanto, não se pode ignorar que essas propostas surgem dentro de um modelo que concentra riquezas e reproduz desigualdades. A fome é, antes de tudo, uma escolha política. O mesmo sistema que permite que trilhões de dólares circulem em mercados financeiros especulativos também impede que alimentos básicos cheguem às mesas de bilhões de pessoas.

Os países do Sul Global, especialmente nações africanas e asiáticas, assumiram um protagonismo inesperado nesta reunião. Nações como o Quênia e Bangladesh apresentaram dados alarmantes sobre os impactos das crises climáticas e da especulação agrícola na insegurança alimentar. Até a Argentina de Milei, extrema direita.

Essa abordagem, se levada a sério, pode ser um divisor de águas, mas é improvável que receba apoio integral das potências que lucram com o caos.

O Brasil, com sua vasta capacidade agrícola, defendeu a necessidade de promover um modelo que combine justiça social e preservação ambiental [Inclusive hoje o assunto é a crise climática]. A proposta de um consórcio internacional para erradicar a fome, liderada pelo governo brasileiro, de um presidente que passou fome; que foi operário... trouxe um pouco de alívio às discussões. Ainda assim, críticas surgiram. É possível combater a fome sem questionar as estruturas econômicas que a perpetuam? Um dos pontos mais debatidos foi a crescente influência de grandes conglomerados na produção e distribuição de alimentos, incentivando o uso de agrotóxicos na agricultura e lucrando com a prática. Essas empresas, que controlam desde sementes até supermercados, são responsáveis por inflar preços e precarizar o trabalho no campo. A narrativa de que os países do Norte ajudam os do Sul Global precisa ser desconstruída: as "ajudas humanitárias" são paliativos que mascaram décadas de exploração.

Outro ponto que merece destaque foi o apelo feito por movimentos sociais representados no encontro desses movimentos. Organizações camponesas, indígenas e ambientalistas exigiram que o G20 incluísse em suas discussões a soberania alimentar como prioridade. Esse conceito, que coloca o direito das populações à produção local acima dos interesses mercadológicos, é uma alternativa real ao capitalismo devastador. Infelizmente, como era de se esperar, essas vozes foram pouco ouvidas nas salas de reuniões onde os poderosos decidiram os rumos do mundo.

O encontro também evidenciou como a crise climática está intimamente ligada à fome. Inundações, secas e temperaturas extremas comprometem colheitas e aumentam os preços dos alimentos. Curiosamente, os mesmos países que lideram as emissões de carbono continuam a ditar as regras para as nações que mais sofrem com seus impactos. Enquanto isso, países como o Brasil tentaram mediar a discussão, mas com um pé preso ao agronegócio exportador, que muitas vezes opera à custa da destruição ambiental.

É inegável que houve avanços na reunião, mas eles são insuficientes diante da urgência do problema. A fome não pode esperar por negociações diplomáticas que se arrastam por décadas. Enquanto líderes discutem metas para 2030 ou 2050, milhões de crianças dormem com o estômago vazio. Os compromissos assumidos no G20 precisam ser cobrados pela sociedade civil de forma incessante, pois, se depender das elites econômicas, a fome continuará sendo um negócio lucrativo.

O G20 no Brasil é, acima de tudo, um reflexo da contradição de um mundo dominado pelo capital. A esperança, no entanto, reside na força dos povos. A articulação entre países do Sul Global e movimentos sociais mostrou que há caminhos alternativos ao modelo atual. Erradicar a fome é possível, mas exige coragem política, solidariedade internacional e, principalmente, a superação do capitalismo.

No final, resta uma lição: não há solução real para a fome dentro de um sistema que lucra, cegamente, com a pobreza. É necessário um novo paradigma, onde a vida esteja acima do lucro. O Brasil, ao trazer esse debate ao centro do G20, mostrou que há possibilidades. Cabe agora aos povos organizados transformar essas possibilidades em revolução.

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