"Manel": A Vida em Tom e Som

Manel é uma figura conhecida na pequena na rua Roseli Nunes, do Assentamento Califórnia. Vizinho humilde e respeitador. Ele trabalha com dedicação na roça, ou melhor, nas roças, cuidando da terra como quem entende o valor de cada pedaço. Suas habilidades são diversas: conserta cercas, ordenha o gado ao nascer do sol, limpa chácaras e cuida dos animais com o esmero de um homem que aprendeu cedo a valorizar o trabalho duro. Manel, é semianalfabeto, Apesar disso, não é só a competência no campo que o define. Manuel tem uma paixão que transcende o cansaço do dia: a música.

Todos os dias, ao voltar do trabalho, ele segue o mesmo ritual. Depois de lavar as mãos e o rosto, vai fazer o bandeco para levar à labuta e o café da manhã, daquela manhã, na casa simples onde mora, coloca sua caixa amplificada na porta e aumenta o volume. O som, inevitavelmente, ecoa por todo o entorno. Seu gosto musical é eclético e não há limites para o que pode sair de seus alto-falantes. De um reggae tranquilo, a um samba animado, de sertanejos românticos a "bregas de corno" com letras intensas e melodias marcantes, Manel transforma as noites da vizinhança em um verdadeiro festival sonoro, porém, respeitando o sossego de cada um. Aqui e acolá ele toma uns goles da chamada, "fubúia".

Os vizinhos, longe de reclamar, aprenderam a gostar da peculiaridade do som de Manel. A música parece refletir sua alma leve e espontânea. Crianças passam em frente à sua casa e dançam ao ritmo de pagodes; adolescentes brincam com as letras dramáticas das canções bregas. Para todos, ele é um símbolo de simplicidade e alegria, alguém que, mesmo depois de um dia cansativo, encontra prazer nas coisas mais singelas. Uma delas é bater papo com ele em sua calçada.

Esse amante da música, mora sozinho na casa cedida pelos patrões, que o têm em alta conta por sua lealdade e dedicação. Não há luxo em sua residência, mas há calor humano. Sempre com um sorriso no rosto e uma gargalhada gigante. Ele conversa com quem passa, oferecendo uma palavra amiga ou até mesmo chamando para ouvir música ao seu lado. Sua simplicidade é contagiante, e seu respeito pelas pessoas o tornou querido por todos, desde os chefes que confiam em seu trabalho, até os mais jovens que o admiram por sua gentileza.

Nos finais de semana, a rotina muda um pouco. Uma vez por semana, Manel busca seu filho, Josué, de quatro anos, para passar o fim de semana juntos. O menino é o orgulho do pai. Mesmo separados, Manel mantém um bom relacionamento com a ex-esposa, garantindo que Josué cresça cercado de carinho e atenção. Nos dias em que o pequeno está por perto, a música continua, mas com uma pitada diferente: as canções infantis se misturam ao repertório variado e os risos de pai e filho enchem o ar.

A vida de Manel é de simplicidade, mas nunca de monotonia. Ele prova que a felicidade não está no que se tem, mas no que se compartilha. Seja no som alto que transforma a noite, seja nas brincadeiras com o filho ou nas conversas casuais com vizinhos, Manuel carrega uma leveza que muitos invejariam. Sua paixão pela música é um reflexo de sua alma: sem fronteiras, sem preconceitos e sempre em busca de algo que ressoe com seu coração. Ele é um retrato vivo do Brasil rural, onde o trabalho é árduo, mas a vida pode ser celebrada com ritmos, letras e batidas que tocam fundo na alma.

Manuel nos ensina, com sua caixa de som e sua vida simples, que mesmo os dias mais cansativos podem terminar com uma música que faça tudo valer a pena. No fundo, ele nos lembra de que, às vezes, o que precisamos é apenas de um pouco de som para dar ritmo à vida.

Comentários

  1. Trabalho digno nos ensina a usar a humildade

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    1. Muito obrigado, por lê e comentar! Peço que compartilhe!
      Abraço e volte!

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  2. Manuel é uma pérola da Califórnia ❤️

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